Ontem à noite assisti ao documentário “Janela da Alma”, dirigido por João Jardim. O documentário mostra depoimentos muito interessantes de pessoas que têm deficiência visual, algumas com uma simples miopia e outras com completa cegueira. Abordam temas como a visão no sentido poético, o que seria ver na realidade, as diferentes perspectivas de visão, a “janela da alma” que não só mostra, mas também absorve, etc...
Uma das pessoas entrevistadas é a cineasta finlandesa Marjut Rimminen, um dos grandes nomes da animação contemporânea. O depoimento dela me marcou bastante. Ela sofreu desde a infância de estrabismo. Conversava com as pessoas e elas perguntavam: “Você está falando com quem?” porque seus olhos não estavam direcionados à pessoa a quem se dirigia, não havia o “olho no olho” e, como ela mesma diz: “Faltava a comunicação”. Essa sua diferença fazia a mãe olhar para ela com grande tristeza. Olhava não para ela, mas sim “através” dela. Isso a afetou bastante e a fez lutar para não ser um fracasso. Ela conseguiria um trabalho em que algo que possuísse e fosse único transformasse essas “cinzas em... jóias”.
Quando criança ela começou a ser atriz. Desejava sempre o papel da princesa, mas nunca deram-no a Marjut. Então começou a buscar papéis secundários e após um tempo resolveu criar os seus próprios papéis dirigindo filmes. Após sua última cirurgia bem-sucedida ela consegue olhar diretamente para a pessoa enquanto conversa, só que... ninguém notou a diferença.
E ela pensou:
“Então, de que adiantou todo esse trauma? Foi uma lesão interna. (...) o fato de ser feia e vesga. Algo que ninguém reparou...”