terça-feira, novembro 21, 2006

Janela da alma

Ontem à noite assisti ao documentário “Janela da Alma”, dirigido por João Jardim. O documentário mostra depoimentos muito interessantes de pessoas que têm deficiência visual, algumas com uma simples miopia e outras com completa cegueira. Abordam temas como a visão no sentido poético, o que seria ver na realidade, as diferentes perspectivas de visão, a “janela da alma” que não só mostra, mas também absorve, etc...
Uma das pessoas entrevistadas é a cineasta finlandesa Marjut Rimminen, um dos grandes nomes da animação contemporânea. O depoimento dela me marcou bastante. Ela sofreu desde a infância de estrabismo. Conversava com as pessoas e elas perguntavam: “Você está falando com quem?” porque seus olhos não estavam direcionados à pessoa a quem se dirigia, não havia o “olho no olho” e, como ela mesma diz: “Faltava a comunicação”. Essa sua diferença fazia a mãe olhar para ela com grande tristeza. Olhava não para ela, mas sim “através” dela. Isso a afetou bastante e a fez lutar para não ser um fracasso. Ela conseguiria um trabalho em que algo que possuísse e fosse único transformasse essas “cinzas em... jóias”.
Quando criança ela começou a ser atriz. Desejava sempre o papel da princesa, mas nunca deram-no a Marjut. Então começou a buscar papéis secundários e após um tempo resolveu criar os seus próprios papéis dirigindo filmes. Após sua última cirurgia bem-sucedida ela consegue olhar diretamente para a pessoa enquanto conversa, só que... ninguém notou a diferença.
E ela pensou:

“Então, de que adiantou todo esse trauma? Foi uma lesão interna. (...) o fato de ser feia e vesga. Algo que ninguém reparou...”

5 comentários:

Anônimo disse...

mesmo que ela não tivesse problema nenhum fisicamente, ainda se sentiria rejeitada. é assim que muitas pessoas se sentem. seria o famoso sentimento de inferioridade. ás vezes, a gente tá mal pra caramba e pensa q as pessoas não tão gostando da nossa companhia, coisa e tal... o problema tá em nós mesmos... não dizem que o grande problema do homem é ele mesmo?! então. é isso.

Rebeca disse...

Exatamente Ester. Você falou exatamente o que quis abordar: sentimento de inferioridade. É a visão distorcida que temos de nós mesmos. E o documentário também mostra esse tema, a dor de "ver" algo que não existe e imaginar que ele existe.

Anônimo disse...

Rebeca, se eu não estiver me confundindo, vi esse documentário na faculdade tb. "A idéia surgiu de uma vivência muito pessoal minha - eu achava que o fato de eu ter uma miopia muito grande tinha influenciado na minha personalidade e até na minha vida", disse Jardim à Folha de São Paulo (VER entrevista em
http://www1.folha.uol.com.br/folha/
ilustrada/ult90u18474.shtml. Lidar com nossas deficiências será algo sempre comovente. beijos,

Anônimo disse...

Gostei do texto!
Bjo♥

Rebeca disse...

Aline, lidar com nossas deficiências "vendo-as" como deficiências é o primeiro passo para um trauma. Mas quando lidamos com deficiências como se elas fossem trampolins para um salto mais alto... é admirável! O que mais me inpressiona nesse documentário é a visão que cada um tem de si. Isso mostra que a visão que temos de nossas deficiências nem sempre são confiáveis. :) Obrigada pelo comentário!
Vera, obrigada pela visita. Volte sempre. ;D